Foto do papai Lucas Piaceski

Encoraje-se com a ancestralidade das mulheres, que viviam com o peito para fora

A seiva da vida. É como sinto ser o leite materno. Um líquido quentinho, docinho, bebido direto da fonte e que faz o ser humano crescer: se você pensou apenas no bebê, acrescente a mãe à sua lista. O poder do leite materno é imenso e a produção dele é uma combinação única de hormônios, estímulos e amor. É sabido ser precioso que todo recém-nascido mame o colostro de sua mãe, como nesta historinha real que vou contar. Quando a minha placenta descolou com 36 semanas e a Aurora precisou nascer em uma cesárea humanizada de emergência, mesmo com toda a brevidade da equipe que me assistia: marido, doula, dois obstetras, pediatra e equipe de enfermagem, a nossa bebê ingeriu um pouco de sangue. Foram apenas três minutos entre me anestesiarem e ela nascer: 21h18 da chuvosa e intensa noite do sábado 24 de março. Ela não chorou. Logo foi levada pelo pediatra para os cuidados intensivos, acompanhados pelo pai. Conheci seu rostinho pela tela do celular da minha doula e pude abraçá-la apenas uma hora e 40 minutos após sair de mim. Meu marido entrou no quarto com Aurora nos braços e ela já estava começando a hibernar. Aquela hiperatividade pós-nascimento, os olhos enormes e o instinto de se arrastar pelo meu corpo para chegar ao peito, o Breast Crawl,havia passado. A este cenário banhado por ocitocina chamamos Golden Hour, pois é o momento único de imprinting(compreendido como amor à primeira vista) entre a nova família que acabou de nascer. Mas com o apoio da doula, ordenhamos. Gota a gota era colocada com o mindinho na boquinha dela, que lambia vagarosamente. 
Diante de uma restrição assim concluí não haver melhor sensação que a de pegar minha filha no colo, abraçar junto ao peito e ajeitar aquela boca de peixinho, conectadas. Assim já passamos muitas horas ao longo deste ano, com a perspectiva de mais um pela frente. O Lucas, meu primogênito, nasceu a termo e mamou no peito até 1,5 ano, ela que veio prematura já ganhou uma prorrogação natural. 

Sensações de satisfação
No peito, o bebê “toma gosto” por aprender. Sinto isto a cada dia com meus filhos: a criança que mama em livre demanda vai construindo a sua própria autonomia, pois é ela quem decide quando parar de mamar, reconhecendo a sensação de satisfação. Quem sabe, este seja um dos primeiros treinamentos de recompensa que possamos ter na vida. Eles se apaixonam pelo “mamá” e a gente por ter e oferecer este líquido precioso.
A digestibilidade do leite materno é destacável, uma vez que o esvaziamento gástrico é de 48 minutos, com a vantagem de ter as necessidades nutricionais e particularidades fisiológicas do metabolismo da criança. É a primeira “vacina” que podemos dar!

Peito é fábrica, não estoque
Uma das informações mais incríveis é que peito é fábrica, não é estoque! Entendedores contam que 80% do leite materno é produzido durante a mamada, como resposta ao estímulo da sucção, à troca de olhares e à formação de vínculo. A prolactina é o hormônio por detrás desta magia. É ela também que faz a gente se sentir toda empoderada com os novos peitos!
A mulher em lactação também cheira diferente. Fiquei impressionada ao ler no perfil Mamãe Completa Oficial que a mulher libera um cheiro através da auréola, similar ao do líquido amniótico, onde o bebê ficou durante 9 meses.
Sendo a gestora de todo este potencial, nós mulheres percebemos o quanto crescemos com a maternidade. Amamentar nos transforma, pois nos dá responsabilidade, nos empodera, nos livra de neuras, nos permite independência maior para viajar e sair de uma forma mais “leve”. Encoraje-se com a ancestralidade das mulheres, que viviam com o peito para fora. Em algumas “tribos”, ainda vivem. Eu faço parte!

 
Daiana Pasquim
Jornalista e professora, mestra em Letras
Mãe do Lucas, 10 e da Aurora, 1 ano




Sugestão de legenda para foto recém-nascido
O poder do leite materno é imenso e a produção dele é uma combinação única de hormônios, estímulos e amor

Sugestão de legenda para foto pb
Encoraje-se com a ancestralidade das mulheres, que viviam com o peito para fora

Back to Top