Cantarolar para dormir ou falar enquanto sonha são habilidades linguísticas avançadas, que exigem internalizar o idioma. Notei esse comportamento em nossa bebê próximo de ela completar um ano. A aquisição da linguagem tem facetas encantadoras: ter bebê em casa é conviver com dá-dá-dá o tempo todo. Os meses vão avançando e cada dia, a capacidade linguística e de entonação se potencializam. 
O senso comum diz que bebê só sabe chorar. Não é verdade! Pesquisadores defendem que durante os primeiros dois meses, eles emitem gritos, grunhidos, suspiros, estalos, oclusões e explosões associados à respiração, alimentação e protestos. Aos três meses, somam-se a estes os arrulhos e risadas. Aos cinco ou seis meses, os bebês já expressam seus estados físicos e emocionais com sua sequência de cliques, murmúrios, semivogais e semiconsoantes, trinados, silvos e bicotas. Entre sete e oito meses, eles começam a balbuciar sílabas verdadeiras como bu-bu-bu, nê-nê-nê e mã-mã-mã. 
Steven Pinker em O Instinto da Linguagem(2004, p.337), confirma que “os sons são os mesmos em todas as línguas e consistem em padrões de fonemas e sílabas geralmente comuns a todas as línguas”. Sabe o que isto significa? Que todos os bebês do mundo falam a mesma língua. Uma curiosidade incrível é que antes de aprender a articular as sílabas, a criança assimila a sintaxe da língua em que nasceu, ou seja, reconhece sua melodia, tonicidade e ritmo (isso começa a acontecer ainda na barriga e continua nos primeiros dias fora dela). Seus balbucios vão começar a ter entonação de pergunta ou de afirmação, diante de determinado comportamento pedido pela comunicação. 
A analogia nos permite compreender ainda melhor: “o bebê é como uma pessoa que ganhou um complicado equipamento de áudio cheio de botões e comutadotes, sem legenda e sem manual de instruções” (PINKER, 2004, p.338). Ou seja, tão logo perceba este conjunto de comandos neurais, vai querer mover os articuladores em todos os sentidos, com efeitos muito variáveis sobre o som. E ao escutar suas tentativas, os bebês escrevem seu próprio manual de instrução.
Este é um fator cabal para que os adultos pronunciem as palavras corretamente. Se a criança diz “papato”, você em seguida fala “sapato”, e assim sucessivamente. Podemos descrever este mundo, narrando a eles: “vou colocar você nesta água quentinha; vamos trocar esta blusa amarela etc”. Por isto a língua é complexa, se adquire, e os linguistas modernos defendem não existir “jeito errado” de falar, mas sim consideram a experiência de uso do falante. 
Dê compreensão e amor ao bebê: dê colo. Não deixe chorar como forma legítima de manifestação da língua. Assim como a nós adultos, o choro é uma válvula de escape para estresse e insatisfação aos bebês também. O desenvolvimento caminha com o acolhimento e o incentivo positivo, que é baseado no amor.  

Daiana Pasquim
Jornalista e professora, mestra em Letras

Crédito da foto: Lucas Piaceski
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