A era em que os filhos ensinam: a prática de karatê é uma das que temos em comum. Lucas, que é bem mais graduado, pode me guiar | Foto: Lucas Piaceski

Cresci ouvindo meus avós falarem “no meu tempo” para contar que algo era diferente. A dica de hoje é tratar “no nosso tempo”

Viver a sensação de ter um, dois quilinhos nos braços quando eles nascem prematuros. Ou até três ou quatro, se eles vêm grandões, quem pariu ou se colocou na condição de pai e mãe por adoção, sabe o que é este sentimento. Mas a gestação e o parto são fases. Vêm como ondas altas e esvoaçantes que exigem força e coragem para serem ultrapassadas, movem areias embaixo de nossos pés e dentro de um tempo cronometrado máximo, passam. Mesmo se o parto durar mais de 24 horas e parecer infinito, ele vai passar. Mesmo se o processo de adoção durar uma década, ele vai se encerrar. O que fica para sempre, é aquele menino ou menina ali do seu lado, para aprender tudo de você e com você.
O texto de hoje é sobre o “com”. O poder de estar e fazer com. Porque os nossos filhos querem muito “estar com”. E precisam disto para terem norte neste vasto mundo. 
 
Tenho a sorte de ser mãe de um pré-adolescente. Lucas tem 11, é um irmão muito amoroso e está na fase em que já voo em pensamentos imaginando o homem que ele vai ser. O tempo todo ele diz a frase: “Olha mãe” e quer contar o que está fazendo, o que viu, pensou, sonhou ou programou fazer. Esta é a minha deixa para o “com ele”. Tem momentos que para ele, tudo parece um problema. É quando o nosso “com” pode provar que não é o fim do mundo.

Ao lado da escola, videogames são a sua vida, algo inerente a esta geração, mas fazer amigos nesta fase é uma gangorra: muito difícil para uns, facílimo para outros. Porque on-line posso estar onde eu quiser com o poder da minha mente. E esta geração do meu filho e daqueles em seu entorno literalmente “voa” para vários lugares. Nós podemos ter a sensação que eles vivem em outra dimensão, porque fazem frases e alcançam fatos que eu não imaginaria em sua idade. Okay, esta é a típica frase dos meus avós que citei ali. Para assumir a postura do “com”, uso a estratégia linguística: “no nosso tempo”, porque estamos aqui juntos sim! E uma das partilhas mais incríveis que tivemos nos últimos tempos foi quando contei a ele um fato de “crush” de quando eu tinha a sua idade. Esta é uma saída se a conexão parecer distante. Todos os pais de hoje já tiveram uma infância. 

Filho não para nunca de crescer. Porque mesmo quando estaciona em altura, ainda tem todas as conquistas profissionais e pessoais que a gente quer ser a primeira a vibrar. No final das contas, todos somos filhos, mas com experiências diferentes.

Daiana Pasquim
Jornalista e mestre em Letras
@daianapasquim

Texto publicado na edição de fevereiro de 2020 na Revista Okay, páginas 43 e 44, editoria 2xMãe!
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