O livro era sobre uma aventura em alto mar e eu me encontrava sentada no verde gramado, aos fundos de minha casa, quando tive um “estalo”: quero ser escritora quando crescer! Aos 13 anos, fui pesquisar sobre a maioria dos autores que conhecia e admirava na época e, a grande maioria deles, tinha como característica ser jornalista. Ouvi aquela voz e decidi. Logo comuniquei à minha mãe: vou ser jornalista!
Àquela altura da vida, precisava logo em breve escolher uma profissão e, como não havia curso superior para ser escritora, encontrei o meu caminho.
De lá para cá foram milhares de páginas lidas. Vozes ouvidas. Eu me tornei jornalista com diploma em mãos em 2004: trabalhei em televisão, em rádio, em jornal impresso por quase uma década, fui estagiária, repórter, editora. Iniciei na assessoria de imprensa e tudo isto me permitiu escrever milhares de caracteres todos os dias, após falar com inúmeras pessoas.
A verdade é que a licenciatura em Letras caiu em minha vida e abracei com muita felicidade. Letras Português e Literaturas em Língua Portuguesa: imagine só, poderia estar ainda mais próxima da realização de meu sonho de ser escritora. Licenciei-me em 2012, dei aulas do Ensino Fundamental II ao Terceirão; mas também no ensino superior. 
Com o mestrado em Letras, reflexões profundas que gostei de fazer sobre literatura menor e dos invisíveis; autores entrevistados; ou, no outro extremo, obras enlatadas e feitas pra vender nas tantas livrarias que visitei, permitiram-me  compreender que o mais importante não é só publicar livros com capa dura e lombada: isso qualquer um com um pouco de dinheiro pode fazer. Ser escritora é uma questão de atitude, de internalização e conexão consigo mesma para dar vida a personagens, histórias, vivências. É contar uma história criando um ambiente único, permitir que criaturas interajam de maneira profunda e reflexiva. É ouvir vozes.
Relendo algumas de minhas reportagens encontrei várias sementinhas da escritura em meus “narizes de cera” de cada dia. Até hoje, mesmo a matéria mais séria e o assunto sem grandes nuances que eu me proponha a reportar, tem um nariz de cera, nem que seja tímido, aparecendo “só a pontinha do nariz”. E as vozes...
Escrever é uma palavra inspiradora, uma atitude transformadora. O jornalismo mudou muito: aos 13 anos, eu era apaixonada por minha Olivetti e seus "tac, tac", pelas pesquisas que poderia fazer nos livros, em catar as ideias que em minha mente surgiam para fazer minhas composições. Era um pouco barulhento e espaçoso. No bacharelado já tinha Google, gravador com fita e logo em seguida, Panasonic com memória. Cheguei a fotografar com câmeras-disquete, hoje trabalhamos com 4K. Muita mudança em uma ou duas décadas. As notícias agora também são aceitas em retalhos: as pessoas leem fotos e manchetes, olhe lá se vem um textão (fiz tantos extensíssimos, hoje avalio). Aprendi a comprimir, mas isso exigiu apuro técnico e extenso domínio da Língua Portuguesa. 
O que está espaçoso hoje são os diversificados interesses das pessoas, mas o que há em comum, para mim, é a convergência ao próprio ego. Em tempos de Story, dá a impressão que cada um gera o seu “programa de TV diário”, muitos levam a sério e viram astros e craques nas ferramentas das redes sociais. O jornalismo abraçou tudo isto e temos uma grande mistura. 
Vamos continuar a nadar nesta aventura marítima, intensa e superabundante de informações, tendo como mastro a ética e como bússola, o respeito ao próximo. Que ouçamos as vozes! Porque acredito que há sempre, ao limpar de tudo, uma alma simples. 

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